Nas últimas horas, o presidente da Argentina, Javier Milei, intensificou seus anúncios nas áreas de política interna e de política externa. As mensagens de Milei ocorreram logo após uma das maiores manifestações no seu governo. No sábado (1), a chamada ‘Marcha contra o fascismo, contra o racismo – não voltamos mais para o armário’ reuniu milhares de pessoas na cidade de Buenos Aires e foi registrada também em outras cidades do interior do país.
Segundo a polícia da cidade de Buenos Aires, na capital argentina a multidão foi estimada entre 80 mil e 100 mil. Número similar só havia sido registrado no ano passado durante a primeira manifestação contrária aos planos de Milei de redução do financiamento para as universidades públicas. As palavras do presidente argentino durante discurso no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, quando fez associação entre a homossexualidade e a pedofilia e indicou sua intenção de eliminar a tipificação de feminicídio do Código Penal argentino foram o que levaram à realização da marcha no fim de semana passado.
As famílias inteiras, de diferentes gêneros, se concentraram pacificamente em frente à Casa Rosada, a sede da Presidência argentina, após uma caminhada que tinha sido iniciada na outra ponta da Avenida de Mayo, em frente ao Congresso Nacional. Milei disse que sua fala foi editada e atribuiu o fato à esquerda – apesar de seu discurso, fazendo a associação, ter sido visto nas emissoras de TV da Argentina. Três dias depois da marcha, o porta-voz da Presidência, Manuel Adorni, anunciou a retirada da Argentina da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Foram os ideólogos da quarentena carnívora”, disse Adorni. O anúncio gerou forte preocupação entre os especialistas da área da saúde. O ex-ministro da Saúde, Adolfo Rubinstein, alertou que a Argentina será prejudicada com a iniciativa.
Ao contrário dos Estados Unidos, que fez o mesmo anúncio dias atrás, a Argentina não envia recursos milionários para a organização que é ligada à ONU. Rubinstein e outros especialistas notaram que a Argentina pode estar dando um passo para o isolamento internacional nesta área. Faltam ainda detalhes dessa intenção de Milei que, de acordo com analistas argentinos, deveria ser aprovada pelo Congresso Nacional. Num sinal que foi visto como improviso, a Argentina, segundo o governo, não sairia, porém, da Organização Pan-Americana de Saúde (OPS) que é subordinada à OMS, como publicou o Clarin em espanhol.
Na esteira de anúncios similares ao do governo Trump, Milei disse em entrevista à revista francesa Le Point que estuda a saída da Argentina do Acordo de Paris. O Acordo de Paris, com a participação de vários países, busca reduzir o aquecimento global. Milei já criticava o entendimento na campanha à Presidência, dizendo ser uma ideia equivocada da esquerda, dos socialistas. A Argentina ratificou o em 2016 e se, de fato, deixá-lo se unirá aos Estados Unidos, ao Irã, à Líbia e ao Iémen. E deixará dúvidas sobre a participação na COP-30, neste ano, em Belém, no Pará.
Será neste contexto de anúncios sintonizados com a agenda de Trump que Milei voltará a embarcar para os Estados Unidos. O destino será novamente Washington, onde esteve na posse de Trump, e, desta vez, para participar novamente da Conferência da Ação Política Conservadora (CPAC), entre os dias 19 e 22 – com expectativa de possível novo encontro com o presidente dos Estados Unidos. A agenda de Milei deixa clara sua opção por um vínculo prioritário com a Casa Branca e pouco interesse pelos países vizinhos da América do Sul.