Nos últimos dias, foram publicadas pesquisas de opinião apontando o impacto negativo na imagem de Javier Milei desde o escândalo da criptomoeda $LIBRA, quando o presidente fez uma postagem nas suas redes sociais, em 14 de fevereiro, promovendo a desconhecida ferramenta digital. Milei escreveu, então, que a $LIBRA seria benéfica para pequenas e médias empresas.

As investigações apontam que um pequeno grupo teria faturado milhões e outros investidores, de diferentes portes, perdido outros milhões de dólares na Argentina, nos Estados Unidos e em outros países. Milei tomou posse há um ano e três meses e esse é, sem dúvida, o momento mais desafiante para sua credibilidade desde que assumiu a Casa Rosada.

O caso afetou o coração do que Milei defendia ser. “Ou seja, o oposto dos políticos que trabalham para eles mesmos e não para a população”, observou o diretor-executivo da Atlas Intel, Andrei Roman, em conversa com o Clarín em Português, nesta terça-feira.

A imagem do presidente registrou uma forte queda em fevereiro deste ano, de acordo com a pesquisa da Atlas Intel, que acertou na previsão da eleição de Milei em 2023.

De acordo com o levantamento, realizado dez dias após a postagem de Milei, entre os dias 24 e 27 de fevereiro, com mais de duas mil entrevistas, a imagem negativa de Milei passou de 41% em janeiro para 50% em fevereiro – um aumento de quase 10% em um mês. Ao mesmo tempo, no mesmo período, a imagem positiva de Milei caiu de 55% para 45%.

“A imagem do Milei está em forte queda. Mas a aprovação do governo não caiu. Existem visões diferentes entre a imagem de Milei e a imagem do governo. Basicamente, as pessoas sentem que as coisas estão melhorando no país, de certa forma, mas têm avaliação pior do presidente por causa do token (caso $LIBRA)”, disse Roman.

Ele observou que Milei “navegava como um antídoto em tudo na política argentina”.

Milei era visto como o opositor aos vícios da política local. Milei já não seria mais um “mito”? “O episódio foi bastante tóxico para o Milei. Não abalou o mito de Milei, mas atacou a posição em que ele vinha se colocando”, disse. Na campanha, com a motosserra que carregou para as carreatas, e na Casa Rosada, com discursos recheados de insultos contra políticos, empresários e jornalistas, Milei buscou ser o símbolo da antipolítica tradicional. Mas a $LIBRA abalou sua imagem principalmente entre os que votaram nele e confiaram nele na reta final da campanha eleitoral. “O eleitor de Milei continua resiliente”, notou Roman.

Diante de uma oposição fragmentada e com setores opositores desgastados, Milei avançava sem obstáculos. Agora, porém, e ainda diante de uma oposição dividida e sem um representante atraente para o eleitorado, a percepção entre eleitores é que Milei, com aquela postagem, privilegiou determinados grupos, aos quais buscou enriquecer.

O olhar dos eleitores sobre os atos e a gestão de Milei passou a ser mais rigoroso. Caso o rumo econômico não funcione, Milei será muito mais questionado. A lua de mel para os que já tinham ressalvas em relação a ele pode ter acabado ou estar em risco. “Agora se juntam essas dúvidas – a sustentabilidade econômica e o caráter dele”, ressaltou Roman. E qual seria a saída para Milei, já que ele não tem quem responsabilizar pela própria promoção que fez em suas redes sociais.

“Talvez argumentar que errar é humano”, disse o diretor da Atlas Intel. A oposição, porém, não perdoa o gesto presidencial e tentará instaurar uma espécie de CPI na Câmara dos Deputados para saber qual a participação de Milei na trama que ele mesmo chamou de “cassino” quando buscou explicar as perdas e ganhos dos que acreditaram na $LIBRA. A Justiça argentina e a dos Estados Unidos também investigam o caso.



Fuente Clarin.com

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