Na quarta-feira, as emissoras de televisão da Argentina, como a TN, interromperam a programação para informar sobre a saída dos quatro venezuelanos que estavam trancados na embaixada argentina em Caracas desde março de 2024. Eles tinham buscado refúgio na sede diplomática, argumentando perseguições por serem ligados à opositora de Nicolás Maduro, Maria Corina Machado. Foi então, na noite de quarta-feira, que o governo brasileiro tomou conhecimento do fato e divulgou, mais tarde, um comunicado do Itamaraty destacando que a saída dos venezuelanos da sede diplomática “coloca um ponto final no drama vivido pelos asilados durante mais de 400 dias.”
Mas será que o Brasil não poderia ter sido avisado antes, pelo menos por gentileza, sobre a saída dos venezuelanos? “Poderiam? Quem? Se ainda não se sabe quem foi (que os retirou da embaixada)”, respondeu uma fonte de Brasília. Para o governo brasileiro, foi um alívio esse assunto complicado ter sido resolvido, mesmo sem prévio aviso. “Nossa maior preocupação era com o drama humanitário”, disse. A sede diplomática passou longos períodos sem luz e sem água, por exemplo. A relação entre os governos do Brasil e da Venezuela é definida como “fria” desde a nova eleição de Maduro, quando o governo brasileiro exigiu que as atas do resultado fossem mostradas – o que não ocorreu.
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Javier Milei, da Argentina, não se falam, mas a diplomacia dos dois países, com a nova amizade entre os ministros das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e Gerardo Werthein, flui, como ficou comprovado nos dois encontros recentes que tiveram em Buenos Aires durante as reuniões do Mercosul na capital argentina. A Argentina está presidindo o bloco- a presidência é semestral e rotativa – e o presidente Lula já confirmou presença na reunião de cúpula do Mercosul no dia três de julho.
Mas a pergunta que persiste, 48 horas após o anúncio da saída dos venezuelanos, próximos da opositora de Maduro, María Corina, é como eles saíram (o lugar era cercado por seguranças do governo Maduro) e quem os retirou e os levou para os Estados Unidos. Os asilados receberam salvo-conduto da Venezuela? Houve diálogo entre Maduro e Trump? Entre Milei, Maduro e Trump? Milei e Maduro são distantes e já trocaram farpas/insultos públicos. Num comunicado, a Presidência da Argentina expressou “reconhecimento à operação que, com sucesso, permitiu que cinco (são 4 porque uma já tinha saído) venezuelanos refugiados na sede da embaixada da Argentina na Venezuela fossem retirados de Caracas e levados para o território estadunidense.” No comunicado, Milei agradece especialmente ao secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. No texto, afirma-se que o governo argentino “valoriza profundamente os esforços realizados para garantir a segurança e o bem-estar dos que estiveram muito tempo sob a proteção argentina diante da perseguição do regime de Nicolás Maduro”. Mas em nenhum momento faz referência ao Brasil.